Atropelados pelo Uber (e tudo o que ele representa)

A adoção de Tecnologia da Informação foi ganhando escala ne medida que seu custo caiu e que novas tecnologias foram surgindo, liberando as tecnologias “secretas” para o uso popular (GPS é o exemplo mais conhecido). Sistemas computacionais eram quase que exclusivos dos militares nos anos 50, passaram a ser adotados pelas grandes corporações nos anos 60 e 70, começaram a proliferar em empresas médias e universidades nos anos 80, invadiram o mundo doméstico e escolar (via Internet) em meados dos anos 90, e explodiram para a escala individual com a chegada dos smartphones a partir de 2005. E entramos agora numa nova era, que é a adoção de dispositivos sensorizados (hoje metade dos chips de em smartphone são sensores (GPS, temperatura, pressão, aceleração, direção, luminosidade, ruído). Cada pessoa deixa de ser apenas uma “usuária” e passa a ser fonte de informação, e, principalmente, de comportamento. E esse conjunto infinito de informações individuais de comportamentos e hábitos é que alimentarão os modelos de negócio por vir.

Aqui vale atentar para um conceito importante: o da complexidade dos sistemas. Um sistema é um conjunto de elementos que interagem entre si. E não é a quantidade de elementos que define a complexidade de um sistema, mas sim a quantidade de interligações entre estes elementos; se o grau de interconexão é alto, o que que acontece em um componente se reflete em muitos outros, e qualquer fenômeno que ocorre com um elemento pode influenciar o sistema inteiro rapidamente.

A grande transformação que passamos a vivenciar é justamente a da criação de uma complexidade ubíqua, onde todas as pessoas estão, mesmo que inadvertidamente, interligadas. Nossa posição geográfica, nossas preferências e conveniências, nossos credos e opiniões, nossos gostos, nossa experiência e conhecimento, nossas vivências e nossos hábitos, nossas relações. Tudo isto está inexoravelmente ligado a nós, como etiquetas, e nós a todos, como dados na nuvem.

Sistemas de big-data passam a ser a tecnologia socialmente mais relevante, pois é a que permitirá tratar todos estes dados e interconexões entre pessoas, entidades, empresas, etc. Estes sistemas irão identificar padrões comportamentais, tendências, conveniências. E quais os benefícios disso? Vários. A otimização logística por exemplo: os aplicativos baseados em posicionamento geográfico têm inúmeras aplicações, desde chamar um táxi (ou Uber) a até encontrar a rota mais rápida para casa. Aplicativos preditivos possibilitarão que sejamos avisados para sair um pouco mais cedo de onde estamos para não nos atrasarmos, caso o sistema detecte algum problema de trânsito nas diversas rotas possíveis.

As coincidências dos padrões de hábito permitirão que sistemas prevejam reposição automática de alimentos, remédios, insumos, etc. E não só no benefício pessoal, no coletivo também: latas de lixo urbanas já avisam quando estão quase cheias e orientam o sistema de coletas, que não opera mais por rotas fixas, e sim por demanda (na cidade de Barcelona isso funciona).

Em suma, aos poucos estaremos fazendo muitas coisas de modo diferente do que fazemos hoje. Já não vamos mais ao banco, um adulto de vinte e poucos anos talvez nunca tenha ido. Bancos não serão mais entidades físicas, novos Bancos já nascem 100% digitais. Novos negócios (Uber, AirBnB, Google, Spotify, Youtube) já nascem 100% digitais. Sistemas de digitação 3D já existem em câmeras de telefones celulares, poderemos nos “auto-escanear” e encomendar roupas e calçados sob medida sem medo de errar.

Quais são os próximos modelos de negócio? Como montar e gerenciar um negócio daqui para frente? Uma dica simples: design e prototipação. Negócios não são mais uma aposta feita em cima de produtos ou serviços, o design de negócio toma o lugar do design de produto, e exercita todo um processo que vai da concepção à validação, passando pela prototipação e revisão do design, tudo antes de colocar o negócio “no ar”.

Aparelhos, servidores, storages, switches, etc, que hoje tratamos como “tecnologia”, passam a ser commodities, e, mesmo com muita tecnologia embutida, não são mais um diferencial. O diferencial passa a vir do modelo de negócio que acertou no design como um todo, que soube identificar os comportamentos que demandarão e consumirão aquela oferta.

Bancos, supermercados, empresas de transporte, escolas, entretenimento, enfim, a maioria dos modelos destes negócios passarão a depender de uma nova linha de tecnologias: aquelas que identificam, reconhecem, preveem um comportamento, e oferecem um serviço dentro da conveniência daquele comportamento. Na prática, somos um grande cardume. Basta chamar um táxi, ou um Uber, pelo aplicativo, e ficar olhando aqueles carrinhos se mexendo e um deles vindo na sua direção com o preço já definido e o valor já coletado no seu cartão de crédito. É por aí.

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Ronaldo Aloise Jr (aht)

Com formação em Eletrônica, Engenharia Mecânica e Eng de Software. Atuou como Diretor Executivo, CMO, CBO e COO, em empresas como HP, Intel, Dell, Baan, Datasul, HT Micron Semicondutores, Datacom e Saque e Pague.

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