Quarta Revolução Industrial, Ética e Princípios da Termodinâmica na Economia – Tudo a ver!

De acordo com Jeremy Rifkin, a 4ª Revolução Industrial está nos levando para uma Sociedade de Custo Marginal Zero

(Nota: Custo Marginal corresponde ao acréscimo dos custos totais de produção quando se aumenta a quantidade produzida em uma unidade).

Se nos anos 1990, quando ainda usávamos CD’s para ouvir música, aumentasse a demanda por CD’s e toca-CD´s, os fabricantes teriam que investir massivamente em ativos para poder produzir e distribuir este maior volume de produtos, e aumentaria o custo marginal na proporção desse crescimento. Hoje compramos arquivos de bits (músicas, softwares, livros, vídeos, etc.) e escutamos ou assistimos nos celulares. Todos os produtos digitalizáveis têm custo marginal quase zero, pois a replicação depende apenas da capacidade de multiplicar arquivos e entregar via Internet.

Este simples exemplo já nos apresenta três características da 4ª Revolução Industrial: primeiro a Digitalização, em que produtos físicos (toca-CDs, rádios, GPS, câmeras fotográficas, etc.) são digitalizados (convertidos em software e componentes eletrônicos), depois a Desmaterialização, quando produtos deixam de existir como itens independentes ao serem todos incorporados em um único aparelho (o smartphone neste caso). Estes dois fenômenos causam o que chamamos de Disrupturas, quando produtos e serviços são substituídos por tecnologias digitais. Outros exemplos são os sistemas virtuais de rede que substituem equipamentos de rede por softwares rodando em servidores (SDN – Software Defined Networks), e os Raio-X digitais em que as lâminas de filmes são substituídas por placas sensíveis à radiação que já fornecem as imagens instantaneamente em arquivos digitais. Empresas encolhem e até fecham por não se renovar e não conseguir superar pontos de inflexão disruptivos.

As disrupturas não acontecem apenas em produtos, ocorrem também em processos. O ato de “baixar da web”, por exemplo, elimina intermediários e reduz os custos relacionados à remuneração ao longo da cadeia de distribuição, mais uma redução no custo marginal. Isto traz mais uma característica da nova economia, a Desintermediação. Algoritmos de ressuprimento automático alimentam sistemas inteligentes de estoques, otimizando logística e custos. Isto reduz o custo e diminui o “consumo de energia” da operação geral de negócio.

Estas disrupturas também promovem uma Democratização, pois, na medida que a Internet expande, mais pessoas (o que corresponde a mais mercado) ganham acesso a estes serviços, estima-se que entre 2010 e 2020 serão 3 bilhões de pessoas agregadas à Internet (**). Na medida que aumenta exponencialmente a interconexão entre pessoas e processos, também maior fica a Complexidade deste sistema. As teorias de sistemas complexos nos ensinam que estes sistemas tendem a gerar Colaboração.

Temos testemunhado o surgimento de novas empresas com modelos de negócio que escalam exponencialmente, pois, ao invés de criar grandes estruturas verticais para operar, elas criam estruturas empresariais colaborativas, que escalam junto. Esta “Des-hierarquização”, que une virtualmente operações transacionais, produtivas e financeiras, tende a funcionar muito melhor em economias que escalam rápido. Um outro aspecto é o “custo energético e econômico” que tende a ficar mais eficiente com a inteligência agregada pelos algoritmos de logística, vendas e produção. Qualquer sistema produtivo deve realizar sua tarefa com o menor consumo energético possível, e essa “eficiência termodinâmica” foi largamente negligenciada na economia industrial do século XX, porque estava associada exclusivamente ao processo produtivo quando deveria ser aplicada a toda a economia.

Em seu livro – The Zero Marginal Cost Society (pg 10. texto adaptado) – Jeremy Rifkin trata deste tema:

 “Os economistas convencionais não reconhecem que as leis da termodinâmica governam toda a atividade econômica. A primeira lei, que postula que a energia não pode ser criada ou destruída – que a quantidade de energia no universo permaneceu a mesma desde o início dos Tempos e será a mesma até o fim dos tempos. E a segunda lei, que estabelece que a energia sempre flui de quente para frio, concentrada para dispersa, ordenada para desordenada. Por exemplo, se um pedaço de carvão é queimado, a soma total da energia permanece constante, mas é dispersa na atmosfera sob a forma de calor, CO2 e outros gases. Ou seja, nenhuma energia é perdida, mas a energia dispersa não é mais capaz de realizar trabalho útil. Os físicos referem-se a esta energia como Entropia. A conta entrópica para a Idade Industrial chegou. A acumulação nas emissões de dióxido de carbono na atmosfera provoca a mudança climática e a destruição da biosfera da Terra, colocando o paradigma do Capitalismo como melhor forma de sistema econômico em questionamento”.

O aumento da eficiência produtiva, comercial, logística e financeira, oriundo da atuação colaborativa de economia interconectada contribui para a diminuição dessa entropia total do sistema econômico mundial. E esta “revolução” dos custos marginais zero está começando a afetar setores industriais de produtos não-digitais. Um exemplo interessante é a fabricação de remédios em impressoras 3D, que produzirão comprimidos com composição específica para o paciente, causando uma bela mudança nos modelos de logística e venda de remédios que conhecemos hoje, esperemos para ver.

A atuação colaborativa das empresas não ocorre porque os empresários resolveram atuar assim, como vimos, isto é uma característica intrínseca dos sistemas complexos, que são, por natureza, auto gerenciáveis, adaptáveis a mudanças e formam grupos ou comunidades cooperativas, cuja interação resulta em um comportamento mais inteligente. E, como qualquer sistema, estabelece sua própria ética.

A simples análise das características da economia interconectada (e exponencial) nos dá uma dica de como é esta ética. Sabemos que Sistemas Complexos são baseados em reciprocidade, e se auto ajustam a favor da manutenção dela. Uma clara constatação disso está no fato de que Reputação é a métrica da Internet (as “ cinco estrelinhas” que regem tudo). A desintermediação e a des-hierarquização, bem como algoritmização e automação dos processos transacionais e financeiros, aumentam a transparência das relações comerciais. Isto naturalmente reduz bastante o espaço para conchavos e compadrios.

Reputação, Reciprocidade e Colaboração são as bases da Economia da Internet. Uma economia global e praticamente autoimune a protecionismos e compadrios. Quem quiser entrar, e vencer, nesta economia, precisará ser competitivo sem infringir esta ética, e cumprindo as leis de equilíbrio da “termodinâmica” da sustentabilidade econômica.

 

Escrito por Ronaldo Aloise Junior

(*)The Zero Marginal Cost Society: The Internet of Things, the Collaborative Commons, and the Eclipse of Capitalism – Jeremy Rifkin

(**) 30/01/2017 The 6 Ds of Tech Disruption – SingularityU – Medium – Peter Diamandis (www.medium.com/singularityu/the6dsoftechdisruptionb38c14ff0147#.gn8otp9w7)

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Ronaldo Aloise Jr (aht)

Com formação em Eletrônica, Engenharia Mecânica e Eng de Software. Atuou como Diretor Executivo, CMO, CBO e COO, em empresas como HP, Intel, Dell, Baan, Datasul, HT Micron Semicondutores, Datacom e Saque e Pague.

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