Em 1984 vivi minha primeira “Transformação Digital”, o que mudou desde então, e o que temos pela frente?

Tudo começou quando levei de casa um computador, uma TV portátil e um toca fitas para a empresa, que era grande e tinha recursos, mas computadores eram raros e caros ainda. Era estagiário de engenharia e meu trabalho era calcular a viabilidade de transformar processos de manufatura baseados em energia do petróleo para elétrica. Precisava pesquisar dezenas de projetos até achar uma memória de cálculo parecida, que pudesse aproveitar e não ter que começar do zero.  Por isso resolvi montar uma pequena base de dados e já colocar de uma vez todas as memórias de cálculo lá, reduzi de alguns dias para alguns minutos o tempo para pesquisar e calcular. Por conta disso fui efetivado e ganhei um setor novo para tocar, Sistemas de Engenharia. Minha missão era absorver o conhecimento de cerca de 40 pessoas entre engenheiros e projetistas, transformar em software e bases de dados e automatizar a Engenharia. Dei muita sorte, pois era um time de mindset aberto e transformador.

A ideia inicial era investir em CAD (Computer Aided Design), mas a computação gráfica estava engatinhado e era caríssima, optei de começar pelo CAE (Computer Aided Engineering).  Parametrizamos os desenhos e calculamos as dimensões com o computador, isso nos permitiu realizar simulações e entregar tabelas de dimensões que adiantaram em dias ou até semanas de trabalho dos projetistas. O objetivo nunca foi, nem deve ser, substituir pessoas ou processos por tecnologias, mas evoluir pessoas, processos, e o próprio negócio, agregando novas tecnologias.

O grande desafio, no início, foi engajar alguns dos projetistas, como sempre tinham as pessoas-freio e as pessoas-aceleradoras, e o conhecimento de ambas era precioso. Com trabalho e paciência conseguimos demonstrar que valia pegar esse trem e embarcar numa transformação que era inevitável. Todos ganhamos; tempo, precisão nos cálculos, maior otimização nos projetos e, principalmente, um time transformável, que se adaptava e evoluía.

Estava com 24, anos de idade, engenheiro mecânico e técnico em eletrônica, para dar melhor conta do recado fiz um pós-graduação em engenharia de software. Lá conheci um pessoal da HP (na época Edisa-Hewlett Packard) e me convidaram para trabalhar com eles, aceitei na hora e nunca mais saí do mundo da tecnologia.  De semicondutores e TI, a softwares de gestão, aprendi bastante, sempre introduzindo novas tecnologias e, com elas, as correspondentes transformações nos negócios das empresas.

Voltando àquele final dos anos 80 e início dos 90, estávamos no paradigma da AUTOMAÇÃO, trabalhávamos mais no lado esquerdo do canvas de negócio, ou seja, no lado da eficiência e dos recursos. Usávamos, obviamente, muita inovação tecnológica, mas o mindset ainda era hierárquico, os relacionamentos ainda não eram em rede, nem, portanto, os modelos de negócio.

Hoje nós temos duas grandes novidades em termos de paradigmas, uma macro, e uma micro, mas ambas “filhas” da redução exponencial de custo dos semicondutores: a Internet e a Inteligência embutida nas coisas, que caracterizam uma sociedade baseada em uso de dados.

A Internet, e junto com ela a economia das plataformas, promoveu a desintermediação dos relacionamentos comerciais, estabeleceu a quebra do paradigma hierárquico e introduziu o paradigma de rede e reputação. Os relacionamentos são “roteáveis”, na medida que muitas alternativas de provedores surgem, e o relacionamento é mais direto, a volatilidade é inversamente proporcional à reputação, ou seja, da mesma forma que um roteador escolhe os nós de comunicação mais confiáveis da rede, as pessoas e empresas escolhem os “nós de negócio” com melhor reputação para suprirem suas necessidades.

Em relação à Inteligência embutida nas coisas, vamos focar apenas no smartphone por enquanto, ou melhor, no fenômeno que ele promoveu: a “APPLICATIVAÇÃO” da forma de fazer negócio e na quebra de outro paradigma fundamental, a troca de paradigma de POSSE pelo paradigma de USO. Uma cascata de novos modelos de negócio foi possibilitada pela comunicação onipresente, a facilidade de ter acesso a vários tipos de negócio na palma da mão, e uma logística cooperada que permitem associações e composições flexíveis de negócios. Uber, AirBnb, Amazon, Mercado Livre e milhares de outras marcas novas são expressões do novo paradigma.

Uma terceira quebra de paradigma é imperativa de se comentar, o planeta não suporta mais um século de extrativismo desmedido como foi o século XX. Precisamos realmente implementar sistemas sustentáveis e atividades econômicas que gerem trabalho em um mundo cada vez mais automatizado. Esse é o novo substrato onde as empresas devem se desenvolver, e o crescimento exponencial de novas tecnologias e soluções com certeza irão viabilizar uma nova economia.

Portanto, quando falamos de Transformação Digital, estamos falando da transformação das empresas para operar, crescer e competir nesse mundo digital, não estamos falando de digitalização de processos, isto é uma parte natural da evolução.  Seguiremos gerando valor tanto pela inovação no lado do negócio quanto pela eficiência pelo lado dos recursos. Mas o desafio é migrar o mindset estratégico do “lado esquerdo” do canvas de negócio, onde primeiro de investia nos recursos produtivos e montava-se um negócio em cima, para o “lado direito” do canvas, onde primeiro se desenha o negócio dentro do novo contexto e aloca-se os recursos da maneira mais ágil e flexível para entregar a proposta de valor.

Muitos são os caminhos e as ações nessa jornada de transformação, esta migração do pensamento estratégico, como compor colaborações, como atuar em uma rede de valor e não mais apenas em uma cadeia de valor, como utilizar os ativos atuais e manter o negócio saudável enquanto constrói o novo. Muitas empresas permanecerão, e serão necessárias lá, no lado esquerdo do canvas, com foco maior em eficiência. O processo é construtivo, utilizando a base atual como alicerce da nova. Explorarei sobre como podemos chegar lá em próximos artigos.

Veja neste link alguns vídeos em que respondo perguntas sobre transformação digital para Pequenas e Médias Empresas: https://www.youtube.com/channel/UCGEMC2NwBS42R46moSNkkJw

Ronaldo Aloise Jr. aht ([email protected]) is a Mechanical Engineer with a postgraduate degree in Software Engineering from UFRGS. He graduated as an executive in the IT and Semiconductor Industry. He served for more than 30 years as a director of companies such as Intel, HP, Dell, Baan and Datasul.

He has also worked as Executive Vice President of HT Micron Semiconductors and Director of Datacom and Saque e Pague. He founded WayToGrow to promote the transformation and growth of companies in the digital economy, and acts as a partner and mentor of several Startups, including Thummi (www.thummi.org), of which he is CBO.www.thummi.org) da qual é CBO.

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Ronaldo Aloise Jr (aht)

With backgrounds in Electronics, Mechanical Engineering, and Software Engineering. Held executive roles as Executive Director, CMO, CBO, and COO at companies such as HP, Intel, Dell, Baan, Datasul, HT Micron Semicondutores, Datacom, and Saque e Pague.

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