“O planeta está em ponto de inflexão” – Esta frase tem surgido espontaneamente em muitas reuniões sobre de design de negócios de que temos participado. Todos percebem que grandes mudanças estão vindo por aí, os modelos tradicionais de negócio já não sustentam crescimento, novos contextos e tecnologias nos desafiam a descobrir novas fórmulas para criar valor para as empresas e substituir os modelos desgastados. Há uma preocupação sobre o nosso grau de preparo para nos adaptarmos ao futuro que se apresenta logo adiante.
Na realidade este futuro já chegou há alguns anos, inclusive em setores não tão relacionados com internet, mas fortemente beneficiados por tecnologias como georreferenciamento e internet das coisas, caso de energia e agricultura. Por exemplo, o uso de drones, associados à computação visual e sensorização, está plenamente incorporado tanto na gestão de plantio quando na supervisão de linhas de distribuição de alta tensão. Drones reduzem drasticamente o custo de supervisão de estruturas a campo aberto, a computação visual ajuda a diagnosticar problemas e resolvê-los imediatamente e a sensorização (aliada a algoritmos preditivos) ajuda antecipar ações de manutenção nas linhas de distribuição, e na correção das lavouras, com precisão “cirúrgica”.
A oferta de energia tem aumentado em função da integração de fontes tradicionais e alternativas de energia via Smart-grid. A produtividade agrícola não para de crescer graças às novas tecnologias de manutenção em tempo real das lavouras com atuações pontuais e sustentáveis, reduzindo o uso de produtos químicos e, mesmo assim, produzindo até 10 vezes mais que há 30 anos atrás na mesma área plantada em alguns casos. O problema não será escassez, se olharmos o crescimento histórico da geração de riqueza no planeta nos últimos 100 anos fica claro que estamos numa rampa de crescimento contínuo desde a 1ª revolução industrial.
Mas se o crescimento da riqueza não é uma incerteza, o crescimento da ocupação e do emprego é. Como a tecnologia passa a ocupar cada vez mais espaço, os modelos de negócio e a empregabilidade é que são foco de grandes questionamentos. A 4ª revolução industrial vai gerar mais riqueza, e em taxas exponenciais, mas muito disso causado sim por disrupturas tecnológicas que criam produtos muito mais baratos por serem baseados em software e eletrônica. Do mesmo modo que produtos “desaparecem” (viram software de celular), canais de vendas desaparecem, a internet possibilitou relacionamentos comerciais com menos intermediários. Menos intermediários implica em menos hierarquia, e isto é uma característica dos tempos atuais, os softwares ERP por exemplo, são estruturas tão hierárquicas quanto às estruturas de gestão que os demandaram, as novas empresas não surgem assim. As novas empresas são ágeis, trocam de direção, erram e corrigem mais rapidamente, hierarquia demais atrapalha.
Em suma, disrupturas, “desierarquizações” e desintermediações são os fenômenos que realmente desafiam os modelos produtivos e comerciais atuais. E fazer uma análise desse impacto nos modelos de negócio é um caminho necessário. Hoje, para alimentar um processo de design de negócio, precisamos avaliar os impactos nestas três áreas: Tecnologias Disruptivas, Modelos de Go-To-Market e Modelos Financeiros de Sustentabilidade. Estas três áreas de influência se entrelaçam e muitas vezes atuam em conjunto. Precisamos nos questionar sobre como faremos para atuar e continuar crescendo nesse novo contexto.
Algumas das tecnologias que hoje já provocam disrupturas e crescimento de riqueza: Georreferenciamento, Machine Learning, IoT e Sensorização, Nanotecnologia, Drones e Robôs, Big Data, Algoritmização, Edição Genética, Fintechs. Onde elas podem fortalecer a nossa empresa? Quais oportunidades nos trazem? Podem representar alguma ameaça como um concorrente com uma oferta tão disruptiva que “mate” o meu negócio?
Na área de Go-To-Market idem. A desintermediação dos relacionamentos promovida pela Internet, associada aos algoritmos de análises de dados comportamentais de Big Data, permitem que o marketing seja individual, comportamental e digital. Os modelos de logística baseada em centros de distribuição já vêm sendo substituídos por modelos algoritmizados de distribuição híbrida (Omni Channels), onde lojas físicas, centros de distribuição e transporte multi-modal atuam em conjunto para entregar rapidamente, sem precisar manter estoques altos para pronta-entrega. Embora até hoje, na maioria das empresas que têm na pronta-entrega um diferencial, a solução de agilidade adotada é o estoque alto, e isto não se sustenta mais financeiramente. Algoritmos comportamentais disparam o “gatilho mental” do desejo de comprar, direcionam o cliente para a compra e executam o processo de entrega em questão de segundos ou minutos, no smartphone de cada indivíduo. Como lidar com tudo isto de maneira a construir um novo paradigma econômico, mais sustentável e igualitário para a humanidade?
Na área financeira os desafios são de modelagem da mentalidade financeira, e não apenas dos processos e ferramentas. Os novos negócios buscam utilizar muito mais ativos alavancados ou terceirizados do que fazer investimentos intensivos de capital em ativos fixos, dando mais ênfase para o conceito de ROCE (Retorno sobre o Capital Empregado), que mede e gerencia com mais propriedade tanto a multidimensionalidade de capitais empregados (financeiro, tecnológico, intelectual, humano, energético-ambiental, social) quanto a multidimensionalidade de ganhos criados (mesmas diversidades do capital empregado). O custo marginal praticamente sai de muitas equações financeiras, principalmente nas de produtos digitais, em que ele tende a zero (softwares e serviços digitais por exemplo), pois praticamente não têm custo extra quando a produção aumenta. As forças de trabalho se flexibilizam, o financiamento passa a ter menos ativos fixos para exigir como garantia, e a excelência da dinâmica transacional passa a ter papel protagonista.
Portanto, nessa fase de “inflexão do planeta”, não basta “apenas” fazer o planejamento estratégico, que costuma ser uma ferramenta que geralmente projeta o futuro baseado nas premissas e resultados do passado, e, quando estamos diante de uma inflexão, isto não faz muito sentido.
O que vêm pela frente é novo para a maioria das empresas, portanto o que é necessário é fazer o design do negócio, usar as tantas ferramentas disponíveis que temos para analisar com profundidade os impactos mencionados acima e, com base nisso, desenhar o futuro da empresa dentro destes novos conceitos.
Desenhar, experimentar, prototipar, validar, empreender o novo desenho em ambiente controlado; e sem comprometer a estrutura vigente, pelo contrário, aproveitando-a, pois ela vai se beneficiar das mudanças mais adiante, mas, por enquanto, ela é a “barriga de aluguel” do novo desenho, ela é sábia na medida que soube chegar até aqui e ela entende de gestão.
Portanto precisamos aproveitar o que “anos de gestão” nos deram de experiência, mas também explorar o novo, quebrar paradigmas e atingir não só novos patamares de gestão e crescimento, mas, principalmente, um novo “mindset” chave, que é o de estabelecer um equilíbrio constante entre gestão e design e um processo de aprendizado contínuo. Estas duas condições são fundamentais para a manutenção do crescimento sustentável.
Obrigado,
Ronaldo Aloise Junior (co-founder at www.waytogrow.com.br)